Gladimir Chiele: Propostas Inovadoras para a Presidência do Grêmio - Arena, SAF e Base

Em um momento crucial para o futuro do Grêmio, o cenário político se aquece com a aproximação das eleições presidenciais. A série de entrevistas promovida pelo Grupo RBS com os pré-candidatos tem sido um palco para a exposição de ideias e a delineação de estratégias para o próximo triênio, de 2026 a 2028. Recentemente, o advogado Gladimir Chiele, terceiro participante desse ciclo de debates, compartilhou sua perspectiva detalhada no programa Sem Filtro, do GZH, na noite de uma quinta-feira decisiva.

A participação de Chiele trouxe à tona discussões pertinentes sobre diversos pilares que sustentam a instituição gremista, desde a gestão do futebol profissional até a visão para as categorias de formação e a estrutura administrativa do clube. Suas propostas, apresentadas com um tom de urgência e pragmatismo, buscam endereçar desafios históricos e projetar o Grêmio para um novo patamar de competitividade e gestão.

Visão Estratégica para o Futebol Gremista

Ao abordar o futebol masculino, Gladimir Chiele enfatizou a importância de profissionais que não apenas possuam conhecimento técnico, mas também uma profunda compreensão do ambiente do futebol brasileiro e das relações inerentes ao esporte. Ele expressou sua admiração por figuras consagradas no cenário nacional.

"Temos dois profissionais fantásticos. O Felipão, não só pela história, não só pela vinculação que ele tem com o Grêmio, mas pela competência. Hoje, seguramente, no país, é um dos caras que mais entende de futebol. Mas entende também das relações, ele entende de quem são as pessoas que comandam o futebol, ele tem essas relações, tanto é verdadeiro que ele foi para a CBF."

O pré-candidato também destacou a relevância de um técnico familiarizado com as particularidades do futebol gaúcho, criticando a recente composição do elenco. A necessidade de um elenco mais conectado à ?aldeia? foi um ponto central, visando resgatar a indignação com resultados negativos, algo que, segundo ele, tem se perdido com o tempo. A ambição por títulos de maior envergadura, em vez de se conformar com conquistas regionais, foi sublinhada como um imperativo para a torcida e para o clube. Quanto ao executivo de futebol, uma análise aprofundada é considerada essencial para sua permanência.

No que tange ao futebol feminino, Chiele defendeu uma abordagem de equidade, propondo que o projeto para as mulheres espelhe o do masculino, garantindo estrutura e suporte equivalentes. A ideia é que, ao vestir a camisa do Grêmio , a responsabilidade seja assumida em sua totalidade, independentemente da modalidade. Isso inclui a captação de talentos no interior do estado, tanto para meninos quanto para meninas, reconhecendo o crescimento exponencial do interesse feminino pelo esporte.

A Base Forte: Projeto de Formação e Expansão

Um dos pilares mais ambiciosos da plataforma de Gladimir Chiele reside nas categorias de base. Ele propõe a criação de uma rede de escolinhas oficiais do Grêmio em parceria com o poder público em cada município do estado. Essa iniciativa não apenas fomenta o esporte, mas também se configura como um programa social, utilizando o esporte como ferramenta de desenvolvimento para crianças no turno inverso ao escolar.

Com uma estimativa de 100 crianças por município, o projeto almeja alcançar a marca de 30 mil jovens atletas, criando um fluxo contínuo de talentos. Chiele questiona a lógica atual do mercado, onde o interior de São Paulo se tornou um celeiro de jogadores para outras regiões, e propõe uma inversão desse fluxo. A visão é que o Grêmio possa não só formar atletas de ponta, mas também produzir jogadores para serem negociados com clubes do Norte, Nordeste e até mesmo do interior de São Paulo, gerando receita e fortalecendo a marca do clube nacionalmente.

O Futuro da Arena: Perspectivas Financeiras e Aquisição

A situação da Arena é um tema central nas propostas de Chiele, que a descreve como um ?absoluto e excelente negócio? para o Grêmio , com potencial para elevar o patamar de receita do clube. O valor de aquisição, segundo ele, flutua entre R$ 180 milhões e R$ 220 milhões, mas pode ser influenciado por fatores externos, como a entrada de novos atores nas negociações, o que, em sua visão, pode ?puxar o freio de mão? e elevar os custos, dificultando a operação.

"A Arena é um absoluto e excelente negócio para o Grêmio, com possibilidade de aumento de receita, para mudar o clube de patamar. O valor varia, dependendo da negociação da gestão, entre R$ 180 milhões e R$ 220 milhões. Pode ser um pouco mais, um pouco menos, mas o que acontece? Com a entrada do empresário (Marcelo Marques) na jogada, certamente o freio de mão foi puxado (pela gestora) e esses valores podem ser acrescidos. E aí, eventualmente, pode-se criar uma dificuldade até operacional e financeira para que a negociação seja realizada por este caminho."

Entretanto, Chiele ressalta a existência de ?outros caminhos?, mencionando o interesse de fundos de investimento na operação. Ele argumenta que para esses fundos, um investimento de US$ 50 milhões é relativamente modesto, e eles buscam parcerias, não necessariamente a aquisição total do controle do clube, como no modelo SAF. A referência à compra da SAF do Coritiba por R$ 1 bilhão por um fundo de investimento ilustra a capacidade desses players. A chave, para Chiele, é a vontade política e a execução das alternativas disponíveis para resolver a questão da Arena, um problema que, em sua análise, tem se arrastado por falta de proatividade.

Grêmio e o Modelo SAF: Uma Discussão Necessária

A discussão sobre a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é abordada por Chiele de uma maneira peculiar, ao afirmar que a Arena Porto-Alegrense já representou, em sua essência, a primeira SAF do Brasil, mesmo antes da existência de uma legislação específica. Essa afirmação serve como base para sua análise de que o Grêmio já convive com as complexidades de um modelo de gestão empresarial, para o bem e para o mal.

"A Arena Porto-Alegrense foi a primeira SAF do Brasil, sem termos lei. Sem termos projeção, sem ninguém falar em SAF naquela oportunidade. Por que eu digo isso? Nós temos uma SAF dentro de casa, que é a Arena. Para o bem e para o mal."

A relação conflituosa e permanente com a Arena desde sua inauguração é citada como um exemplo dos desafios que uma SAF pode apresentar. Contudo, Chiele esclarece que a transformação do Grêmio em uma SAF não significa a simples venda do clube, mas sim a transferência de patrimônio e de toda a estrutura para uma nova entidade, um processo que deveria ter ocorrido em 2012. Sua visão é de que o Grêmio não precisa ser vendido para se constituir em uma empresa, mas sim adotar práticas administrativas profissionais em sua gestão, sem perder sua identidade de associação sem fins lucrativos.

Governança e Renovação nos Conselhos do Grêmio

Para Gladimir Chiele, a renovação do Conselho Deliberativo é de suma importância, talvez até mais do que a eleição presidencial em si, pois dela emergirão as forças políticas que moldarão o futuro do clube. Ele defende que o Conselho de Administração, embora não seja uma área técnica, deve ser composto por perfis que compreendam a gestão administrativa e possuam uma condução política alinhada aos projetos e ideias para o Grêmio .

A crítica à ?velha prática? que, segundo ele, perdura há mais de um século tanto no Grêmio quanto no Internacional, ressalta a necessidade de adaptação aos novos tempos. A proposta é de que o Grêmio seja gerido com mentalidade empresarial, sem, contudo, se transformar em uma empresa. Isso implica em adotar práticas administrativas eficientes e buscar dirigentes com perfis adequados para a execução desses projetos, superando a dificuldade atual na condução gerencial do clube.

O processo eleitoral gremista ganha contornos mais definidos a cada entrevista, e a plataforma de Gladimir Chiele oferece uma série de propostas que buscam redefinir a gestão e o futuro do Tricolor. Acompanhe a seguir a agenda completa das entrevistas com os pré-candidatos à presidência do Grêmio , que continuam a expor suas visões para o clube.