Grêmio Arranca Empate Heroico do Flamengo: Análise Tática

A jornada do Grêmio no Campeonato Brasileiro ganhou um novo e significativo capítulo. Em um embate no Maracanã, o Tricolor Gaúcho conquistou um empate valioso, um ponto essencial na sua luta para se distanciar da zona de rebaixamento. A partida foi um testemunho da capacidade gremista de suportar a pressão, mesmo diante do inegável domínio do Flamengo. Apesar de sair em desvantagem no placar e de flertar com a possibilidade de sofrer o segundo gol, a equipe soube reagir, especialmente após as alterações táticas na etapa final, culminando no gol de empate convertido por Tiago Volpi, de pênalti.

Volpi, aliás, emergiu como a figura central do confronto, o jogador de maior influência no desfecho. Suas intervenções foram decisivas, com duas defesas notáveis frente a finalizações perigosas de Léo Pereira e Pedro. Além disso, coube a ele selar o placar nos minutos derradeiros. O cenário parecia completamente favorável ao Rubro-Negro, que, após um esforço considerável para transpor a linha defensiva gremista, encontrou o caminho do gol e, posteriormente, espaços. Contudo, a equipe carioca falhou em capitalizar essa vantagem, demonstrando uma notável ausência de senso de urgência e precisão nas conclusões.

Estratégias Iniciais: A Composição Tática em Campo

As estratégias iniciais das equipes revelaram abordagens distintas. Pelo lado flamenguista, a ausência de Jorginho, não relacionado para o jogo, abriu espaço para De la Cruz como volante ao lado de Saúl, marcando o retorno do uruguaio à titularidade desde meados de maio. Na lateral-esquerda, Ayrton Lucas assumiu a vaga de Alex Sandro, enquanto o restante do time manteve a base vitoriosa da goleada anterior sobre o Vitória.

Já o Grêmio , sob o comando de Mano Menezes, surpreendeu em sua composição ofensiva, escalando Braithwaite e Carlos Vinícius como dupla de ataque. Dodi e Cristian Olivera ocuparam as pontas, com Edenilson e Cuellar formando a dupla de volantes. A defesa trouxe uma novidade: a estreia de Noriega na zaga, preenchendo a lacuna deixada por Balbuena. O esquema tático adotado foi um 4-4-2, buscando solidez e capacidade de transição.

O Duelo Tático: Flamengo Pressiona, Grêmio Se Fecha

O cenário esperado para o confronto no Maracanã se confirmou desde o apito inicial: um Flamengo imponente, exercendo pressão constante sobre o Grêmio . A surpresa, ou melhor, a frustração para o Rubro-Negro, residiu na dificuldade em perfurar a sólida e bem-organizada defesa tricolor. Mesmo com a posse de bola majoritariamente no campo ofensivo, os donos da casa experimentaram apenas dois momentos de real intensidade.

O primeiro ápice flamenguista ocorreu nos primeiros cinco minutos, com Varela, Plata e Samuel Lino buscando profundidade e sendo acionados por Léo Ortiz, Saúl e Arrascaeta. Contudo, Marlon e Noriega se destacaram com cortes providenciais, impedindo finalizações a poucos metros da meta. Antes do intervalo, a dupla foi fundamental, somando ações de desarme cruciais para a manutenção da igualdade.

A segunda onda de pressão do time carioca surgiu após os 40 minutos. Em uma sequência de bolas alçadas na área e rebotes de escanteios, o Flamengo esteve muito próximo de abrir o placar. Pedro, em uma oportunidade clara, desperdiçou ao chutar em Volpi após cruzamento rasteiro de Arrascaeta na pequena área. Na sequência, Noriega novamente brilhou, tirando a bola praticamente em cima da linha, após dividida entre Pedro e Volpi.

Apesar de não ter criado perigo real ao Flamengo nos 48 minutos iniciais, o Grêmio merece reconhecimento pelo impecável trabalho defensivo. Além de Noriega e Marlon, já mencionados, Kannemann e Cristian Olivera foram pilares. O zagueiro executou coberturas eficientes e interceptou cruzamentos, enquanto o atacante demonstrou disciplina tática ao acompanhar Varela até a linha de fundo defensiva.

Essa dedicação de Olivera, inclusive, frequentemente transformava o Tricolor em uma linha defensiva de cinco homens, com ele marcando Varela e Marlon vigiando a movimentação de Plata para o centro. Cuellar, por sua vez, limpou a frente da área com interceptações precisas. Apesar de alguns erros na saída de bola, sua contribuição defensiva foi inegável. Edenílson, Dodi e Braithwaite também exibiram notável disciplina tática, compondo um bloco coeso.

Ao Flamengo, faltou maior agilidade na circulação da bola e a criação de combinações pelos flancos. A maioria das tentativas de definição se concentrava pela faixa central, onde a defesa gaúcha se mostrava intransponível. Ainda assim, De la Cruz e Saúl demonstravam desenvoltura na condução da bola ao ataque, Samuel Lino causava problemas a Marcos Rocha, e Arrascaeta, quando conseguia participar, mostrava sua habitual precisão.

O Gol Rubro-Negro e a Virada Gremista

As pressões na saída de bola do Flamengo também não estavam totalmente ajustadas, o que permitiu ao Grêmio alguns momentos de desafogo, embora o ritmo da partida tenha permanecido morno por cerca de 25 minutos da etapa inicial. O cenário não se alterou significativamente no retorno para o segundo tempo, especialmente no que tange à pouca capacidade gremista de gerar perigo em contragolpes, com erros frequentes nas transições.

Entretanto, a máxima de que a pressão constante adversária, por mais tempo, inevitavelmente cobra seu preço, se materializou. Em um momento de descuido gremista, Cristian Olivera errou um passe em contragolpe, expondo a saída de bola do Imortal. Samuel Lino aproveitou, serviu Arrascaeta, que tabelou com Pedro e, com uma finalização primorosa, abriu o placar no Maracanã.

Filipe Luís, estrategicamente, substituiu Plata por Luiz Araújo logo após o gol, mas a equipe carioca não diminuiu o ímpeto. Inclusive, esteve perto de ampliar a vantagem em uma cobrança de falta de De la Cruz e em uma cabeçada firme de Léo Pereira , ambas defendidas com maestria por Volpi. Mano Menezes, por sua vez, realizou três alterações antes dos 20 minutos, buscando reverter o quadro: Cristaldo, Aravena e Pavón entraram nos lugares de Braithwaite, Cristian Olivera e Edenílson .

Com as substituições, o Grêmio naturalmente adotou uma postura mais ofensiva. Carlos Vinícius permaneceu como o principal alvo dos passes diretos, mas agora contava com mais opções para tabelar, como Cristaldo , Aravena e Pavón . Marlon também se soltou mais pela esquerda. Contudo, transformar essa maior ofensividade em chances claras de empate não foi uma tarefa simples. Mesmo com uma marcação menos intensa, o Flamengo conseguia proteger bem sua área.

Volpi, o Herói Imortal: O Pênalti Que Selou o Empate

A equipe da casa, por outro lado, encontrava soluções com maior facilidade ao se aproximar da meta adversária, mas pecava pela falta de precisão técnica e um certo preciosismo na finalização dos ataques. Em diversas ocasiões, uma abordagem mais simples poderia ter sido mais eficaz. Filipe Luís aguardou a passagem dos 30 minutos para promover as entradas de Evertton Araújo e Bruno Henrique, substituindo De la Cruz e Pedro.

Mano Menezes, por sua vez, utilizou suas últimas trocas com a entrada de André Henrique e Wagner Leonardo, enquanto Carlos Vinícius e Dodi deixaram o campo. Noriega foi deslocado para a função de volante. A partida permanecia aberta, e o placar mínimo mantinha o Tricolor vivo. A postura de luta e perseverança gremista foi, sem dúvida, um fator crucial para o desfecho que se seguiria.

O momento decisivo veio quando Pavón recebeu um lançamento de Cristaldo nas costas de Ayrton Lucas e cruzou. A bola, infelizmente para o Flamengo, tocou o braço do lateral dentro da área, e a penalidade máxima foi assinalada. Com frieza e precisão, Tiago Volpi converteu o pênalti aos 39 minutos da etapa final, igualando o marcador.

Nos instantes derradeiros, com Emerson Royal já em campo na vaga de Varela, os cariocas tentaram uma última investida. Contudo, a eficácia necessária para criar novas oportunidades não se fez presente, e o placar de empate persistiu. O Grêmio , com garra e inteligência tática, arrancou um ponto de ouro do Maracanã, em uma exibição de resiliência que expôs as falhas do Flamengo em converter sua superioridade em um resultado mais elástico.