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Grêmio: Gestão da Arena Adquirida! Fim da Novela?
Por Redação Sou Imortal em 15/07/2025 05:12
A recente aquisição da administração da Arena por Marcelo Marques, empresário gaúcho e pré-candidato à presidência do Grêmio, representa um marco há muito aguardado pela comunidade tricolor. Anunciada na última sexta-feira, essa movimentação promete solucionar uma complexa questão que afligia tanto o clube quanto sua fiel torcida desde a inauguração do estádio, em 2012. A equipe do empresário, em conjunto com representantes do Grêmio e da Arena Porto-Alegrense, antiga gestora do complexo, trabalha intensamente para formalizar os termos dessa transição, processo que deve ser concluído até o final do ano. Detalhes adicionais estão programados para serem divulgados em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira.
A Arena Porto-Alegrense detinha, por contrato, o direito de gerir o estádio até o ano de 2033. Essa exploração do patrimônio estava intrinsecamente ligada ao acordo de quitação pela construção da estrutura, que também envolvia a entrega da área onde se localizava o Estádio Olímpico. Ao investir R$ 50 milhões, Marcelo Marques antecipa o término da influência da Arena Porto-Alegrense, empresa vinculada ao Grupo Metha (anteriormente OAS), na rotina do Grêmio . Adicionalmente, com um aporte de mais R$ 80 milhões, o empresário garantiu a posse de dois terços da dívida referente ao financiamento do estádio, sendo que o terço restante já havia sido adquirido previamente pelo próprio clube gaúcho.
O Desvendar de uma Década de Impasses
A ação do empresário, atuante no setor alimentício, é percebida não apenas como um passo decisivo para as eleições de novembro, mas também como um gesto de pacificação em um embate prolongado que, ao longo dos anos, teve a torcida tricolor como principal afetada. Nascido em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, Marcelo Marques foi calorosamente recepcionado no Aeroporto Salgado Filho, após a conclusão da aquisição em São Paulo. Este momento simboliza o fim de uma série de desentendimentos.
Nos últimos anos, Grêmio e Arena Porto-Alegrense protagonizaram um embate velado, que recentemente veio a público. O cenário era de mútuas acusações, processos judiciais e um diálogo exaurido, culminando em um choque de interesses que inevitavelmente atingiu o torcedor. Os episódios mais recentes dessa disputa se manifestaram na terça-feira anterior, durante o confronto contra o São José, pela Recopa Gaúcha. Após um hiato de 24 dias sem partidas, devido à pausa para a Copa do Mundo de Clubes, tanto o presidente Alberto Guerra quanto o vice-presidente de futebol Alexandre Rossato expressaram publicamente sua insatisfação com a condição do gramado e a lentidão no acesso ao estádio.
Contudo, a precariedade do campo de jogo e as extensas filas para entrada eram apenas a superfície de um conjunto de divergências entre o Grêmio e a Arena Porto-Alegrense. A relação entre as partes começou a se deteriorar já no primeiro ano de operação do novo complexo gremista, com questionamentos sobre a validade do contrato. A situação agravou-se progressivamente ao longo dos anos, marcado por tentativas infrutíferas de renegociação da gestão. A concepção de um novo estádio, impulsionada pela tendência das arenas multiuso, começou a ser delineada pelo Grêmio em 2007, sob a gestão de Paulo Odone, que considerava o antigo Olímpico inadequado para reformas. O projeto foi então apresentado ao mercado, despertando o interesse de diversas construtoras, com a OAS sendo selecionada para materializar o empreendimento, cuja construção teve início em 2010.
Para custear a edificação na zona norte de Porto Alegre, o clube cedeu a área do Estádio Olímpico, situado na Azenha, e concedeu à empresa criada para administrar a nova estrutura ? a Arena Porto-Alegrense ? o direito de exploração por duas décadas. Adicionalmente, a OAS seria beneficiada por empreendimentos imobiliários que surgiriam a partir do negócio com o Tricolor, incluindo condomínios residenciais e até mesmo um shopping center, este último jamais concretizado. A inauguração do estádio ocorreu em 8 de dezembro de 2012, com um amistoso entre Grêmio e Hamburgo, da Alemanha, uma reedição da final do Mundial de Clubes de 1983. Naquele mesmo final de ano, Paulo Odone foi derrotado nas eleições por Fábio Koff, um dirigente vitorioso que, ao reassumir em 2013, surpreendeu os gremistas com uma declaração contundente:
A Arena não é nossa. Vamos levar 20 anos pagando
? Fábio Koff, então presidente do Grêmio , em entrevista ao jornal Zero Hora, em 2013
As Amarras Financeiras e os Custos Ocultos
Preocupado com a possibilidade de um estrangulamento financeiro do Tricolor, Fábio Koff conduziu a elaboração de um aditivo contratual que redefiniu as condições entre Grêmio e OAS. A principal alteração consistia na redução do valor anual pago pelo clube à gestora para a ocupação das cadeiras, de R$ 41 milhões para R$ 20,5 milhões. Naquele período, também ficou estabelecido que a Arena Porto-Alegrense arcaria com despesas como a festa de inauguração do estádio, a edificação do CT Luiz Carvalho em um terreno adjacente, a construção do Memorial e um adiantamento de R$ 10 milhões destinado a investimentos no futebol.
Em decorrência de um débito estimado em R$ 160 milhões, o Grêmio não recebia os 65% do denominado "lucro líquido ajustado" da Arena, ao qual teria direito. O clube também não possuía responsabilidade sobre eventuais prejuízos do estádio, sendo que os valores eram somados e deduzidos dentro do que passou a ser conhecido como "dívida 2013". Mesmo com a implementação do aditivo, a relação permaneceu conturbada. A impossibilidade de usufruir da receita dos jogos e a ausência de poder sobre decisões elementares, como a precificação dos ingressos, levaram o Grêmio a tentar adquirir a gestão do estádio pela primeira vez em 2014. Negociações com a mesma finalidade se repetiram em 2019, 2021 e 2023, todas sem sucesso.
O cenário foi ainda mais complicado pela situação enfrentada pela OAS, desencadeada após a Operação Lava Jato. A dívida referente à construção do estádio não foi quitada, e a Arena encontra-se alienada como garantia, o que explica por que a troca de chaves entre o Olímpico, que permanece em estado de abandono, e o novo estádio jamais ocorreu. As contrapartidas do empreendimento, notadamente as obras viárias e de saneamento no entorno da Arena, que eram de responsabilidade da empreiteira, não foram executadas. O tema foi levado à Justiça e se arrasta há anos, sem uma resolução definitiva sobre quem deve realizar tais obras. Em virtude de sua recuperação judicial, a OAS transformou-se em Metha, que é proprietária da construtora Coesa, esta, por sua vez, detentora da OAS 26, proprietária do imóvel da Arena. A Karagounis, empresa com vínculos à Caixa Econômica Federal, também possui participação sobre o estádio.
Para assumir a gestão, o Grêmio necessitava não apenas de um acordo com todas as partes envolvidas, mas também de antecipar o valor que a Arena Porto-Alegrense projetava auferir até 2033 (ano de término do contrato de exploração) e assumir a dívida decorrente do financiamento da construção do estádio. Foi exatamente isso que o empresário gremista concretizou. Em outubro do ano anterior, o clube gaúcho já havia adquirido um terço desse débito, aproximadamente R$ 109 milhões, que pertencia ao banco Banrisul. O fundo Reag, de São Paulo, era o detentor das outras duas parcelas, ligadas ao Banco do Brasil e ao Santander, totalizando R$ 150,9 milhões ? estes são os dois terços que Marcelo Marques adquiriu.
No início de junho, a diretoria do Grêmio organizou um encontro com o Conselho Deliberativo e membros da imprensa para detalhar a relação cada vez mais tensa com a gestão da Arena. Em uma apresentação de duas horas para 110 conselheiros, o vice-presidente Eduardo Magrisso evidenciou que os problemas transcendiam o que era perceptível ao torcedor. O dirigente revelou que o clube havia rejeitado as demonstrações financeiras da Arena Porto-Alegrense referentes a 2022 e 2023. Entre os pontos questionados pelo clube, destaca-se a transferência de R$ 49,6 milhões para outra empresa do Grupo Metha. Conforme o exposto na reunião, esse valor constava no demonstrativo de 2023 como "mútuo", uma espécie de empréstimo entre a Arena Porto-Alegrense e uma empresa denominada Smart Arenas Gestão de Instalações Esportivas.
Outro fato que gerou ainda maior indignação foi a constatação, no demonstrativo financeiro, do pagamento de R$ 6 milhões em bonificações à direção da Arena Porto-Alegrense. O balanço de 2024 ainda não havia sido apresentado, com prazo previsto para março de 2025. A reeleição do atual presidente da Arena Porto-Alegrense, Mauro Araújo, também não foi aprovada. Magrisso expressou sua perplexidade:
Uma empresa cujo auditor diz "existe o risco de continuidade dessa empresa porque ela não tem condições de gerar recursos para pagar os seus compromissos". E a administração recebe bônus pelo seu excelente desempenho? Ou seja, eles pagam eles mesmos
? Eduardo Magrisso, vice-presidente do Grêmio em reunião com o Conselho Deliberativo
Batalhas Jurídicas e Tentativas Frustradas
O Grêmio formalizou mais de 30 notificações, tanto judiciais quanto extrajudiciais, à Arena. Estas abordavam desde questões simples, como infiltrações, até problemas mais complexos, como as condições do gramado e regras de governança que a direção alegava não estarem sendo cumpridas. Entre elas, destacam-se o pagamento e a movimentação de valores sem a anuência do Grêmio . Formalmente, o clube possui dois representantes no Conselho de Administração da Arena Porto-Alegrense. Contudo, as divergências superaram o âmbito do diálogo e foram parar na Justiça: há, no mínimo, 12 processos em andamento entre o clube e a gestora. Eduardo Magrisso, em reunião com o Conselho Deliberativo, foi enfático:
E depois eles vêm se vitimizar que não têm dinheiro para operar a Arena. Tem dinheiro, sim. Não tem vítima aqui. A vítima é o Grêmio . É o sócio do Grêmio , é o torcedor do Grêmio
? Eduardo Magrisso, vice-presidente do Grêmio em reunião com o Conselho Deliberativo
No primeiro ano da atual gestão, sob a liderança do presidente Alberto Guerra, houve a mais recente tentativa de aquisição da Arena antes da entrada de Marcelo Marques. O Grêmio propôs a compra da dívida da Arena Porto-Alegrense junto aos bancos Santander, Banco do Brasil e Banrisul por R$ 45 milhões. A estratégia de venda de crédito é comumente utilizada por credores para assegurar algum valor, em vez de aguardar o pagamento integral, que se mostra improvável dadas as condições financeiras precárias do devedor. Pela proposta inicial, a Arena Porto-Alegrense estaria desonerada de suas dívidas de financiamento da obra com os credores. Além disso, o clube ofereceu R$ 60 milhões, a serem pagos em uma década, para que a gestora se retirasse da operação e transferisse o controle do estádio ao próprio Grêmio .
No decorrer desse processo, o fundo de investimentos Reag, associado à empresa de gestão imobiliária Revee, interveio e adquiriu dois terços da dívida da Arena Porto-Alegrense por R$ 40 milhões. Parte do plano gremista, portanto, foi inviabilizada, e o clube encerrou as negociações. Coube, então, ao empresário gremista concretizar o acordo que três presidentes do clube não haviam conseguido ao longo de anos. Nesta terça-feira, Marcelo Marques e o presidente Alberto Guerra deverão estar presentes em uma coletiva de imprensa para detalhar como ocorrerá a transição da gestão do estádio para o clube, um processo que se estenderá até o final do ano. Contudo, os gremistas já podem, com orgulho, afirmar que, finalmente, a Arena pertence ao Grêmio .
Durante a elaboração desta reportagem, a equipe do ge encaminhou uma série de questionamentos à assessoria da Arena Porto-Alegrense em diversas ocasiões. Contudo, o posicionamento oficial foi divulgado por meio de uma nota à imprensa, que não abordou os temas específicos levantados. A íntegra da nota oficial da Arena Porto-Alegrense é a seguinte:
"Diante das recentes manifestações públicas envolvendo a gestão da Arena do Grêmio , a administração reitera seu compromisso com o cumprimento responsável e profissional do contrato celebrado com o Grêmio , tanto sob o aspecto do seu objeto, como também do respeito ao sigilo entre as partes pactuado.
A Arena, portanto, não utilizará a imprensa como espaço para rebater acusações ou alimentar polêmicas
Os questionamentos sérios serão, como sempre foram, tratados de forma técnica e profissional, no ambiente adequado, sempre levando em conta fatos verídicos, documentos e a legislação.
Seguiremos focados em entregar resultados concretos, que podem ser aferidos, e não em criar narrativas
Após a maior enchente da história do Estado, a Arena está em pleno funcionamento, atendendo aos padrões exigidos pelas entidades que regulamentam as competições e equiparadas aos melhores equipamentos desportivos do pais.
A Arena reafirma que seguirá atuando com respeito institucional e responsabilidade na condução de seus contratos, preservando sua missão e sua reputação."
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