Grêmio: Mano Menezes Desvenda Desafios de Cuéllar e Disparidade Financeira no Futebol

A visão estratégica do comando gremista, personificada pelo experiente técnico Mano Menezes, transcende o mero tabuleiro tático. Ela se aprofunda em uma compreensão aguda do cenário futebolístico nacional, revelando as complexidades e os desafios intrínsecos à gestão de um clube de elite no Brasil.

Recentemente, declarações contundentes do estrategista vieram à tona, lançando luz sobre uma verdade crucial e, por vezes, incômoda: o imenso fosso econômico que separa os clubes de ponta do restante do cenário competitivo.

O Gigante Financeiro e a Competição Desigual

Em uma entrevista franca ao jornal Correio do Povo, Menezes articulou essa dificuldade com clareza notável. Ele ressaltou que a disparidade de recursos é um fator preponderante no futebol contemporâneo.

"Já tem uma disparidade muito grande financeiramente, principalmente de Palmeiras e Flamengo, para o resto dos outros. Nós não podemos competir com o Flamengo nas regras do Flamengo. Temos que competir com as nossas"

Essa afirmação sublinha a imperatividade de uma abordagem pragmática e adaptada à realidade financeira e estrutural do Grêmio. O técnico foi além, explicando que a hegemonia de certos clubes não se baseia apenas em receitas robustas, mas também na organização e eficiência gerencial que eles cultivaram ao longo dos anos.

"O Flamengo sempre foi uma equipe de faturamento maior. Ela só está mais organizada"

Essa observação indica que a solidez administrativa potencializa o poderio econômico, criando um ciclo virtuoso que se traduz em maior capacidade de investimento e, consequentemente, em maior competitividade.

Foto: ( Lucas Uebel / Grêmio)

Gustavo Cuéllar: A Adaptação em um Contexto de Alta Exigência

Dentro desse ambiente competitivo de alta demanda, o caso do volante Gustavo Cuéllar emerge como um exemplo emblemático das complexidades envolvidas na adaptação de um atleta. Sua chegada ao Grêmio em janeiro de 2024, com um contrato que se estende até dezembro de 2026, gerou grande expectativa, impulsionada tanto por seu histórico vitorioso quanto pelas ponderações públicas de Mano Menezes.

Em diversas ocasiões, o comandante técnico fez questão de demarcar o real cenário físico e técnico do atleta, desmistificando a percepção popular que muitas vezes acompanha o retorno de jogadores de grande nome ao cenário nacional.

"A gente sempre enxerga o jogador que saiu. Fica com aquele imaginário que o jogador que está voltando é o mesmo que saiu, principalmente quando ele saiu vencedor. E aí se cria uma coisa que não é real"

O meio-campista colombiano, que deixou uma marca indelével no Flamengo entre 2016 e 2019, foi imediatamente lançado aos gramados após sua aterrissagem em Porto Alegre. Tal inserção abrupta, conforme pontuado pelo próprio Mano, impôs obstáculos ao seu processo de reajuste.

"Cuéllar ficou muito tempo fora, fez menos jogos por temporada, e isso afeta a adaptação"

O Impacto do Futebol Saudita e o Futuro do Volante

Menezes realçou que a modalidade praticada no futebol saudita possui uma intensidade e exigência física consideravelmente menores, o que impacta diretamente na transição de atletas para ligas mais competitivas como a brasileira.

"Se você ficar seis, oito anos, são 20 jogos a menos por ano, façam as contas. São 150, 200 jogos a menos, com muito menos desgaste, a cobrança é menor"

O atleta, até o momento, contabiliza 13 aparições e 715 minutos vestindo a camisa tricolor. No entanto, apesar dessa minutagem, informações oriundas da diretoria indicam que Cuéllar passou a ser avaliado como uma opção para negociação na vindoura janela de transferências.

Embora haja uma dose de prudência interna quanto ao potencial restante do jogador, o técnico persiste em sua convicção, equilibrando realismo com otimismo sobre o futuro do atleta no clube.

"Acreditamos que vai acontecer e que o Cuéllar vai ser o jogador que se criou a expectativa sobre ele. Não é, obviamente, o jogador de 2019"

A presença de Cuéllar no plantel, segundo Mano Menezes, integra um planejamento que demanda uma virtude escassa no futebol moderno: a paciência. Ele invocou a trajetória de Thiago Neves, que ao retornar ao futebol brasileiro pelo Cruzeiro após um período no Oriente Médio, também necessitou de um lapso temporal para atingir sua plena forma e rendimento.

O atual período de pré-temporada é encarado como um divisor de águas para a completa recuperação física e técnica do meio-campista colombiano. Conforme o técnico, a pausa nos confrontos oficiais se apresenta como uma derradeira chance para avaliar o volante em um ambiente propício e sob condições otimizadas.

Em síntese, a visão do comandante é forjada em um realismo inegociável, culminando em uma máxima que encapsula a disparidade e a estratégia do Grêmio :

"Não dá para competir com o Flamengo nas regras do Flamengo"