Grêmio na Arena: Clube Assumirá Gestão Direta em Novembro – Impactos e Expectativas

Em um movimento há muito aguardado e de profundo significado institucional, o Grêmio oficializou a data de 1º de novembro para a assunção integral da gestão da Arena. Este marco representa um divisor de águas na relação do clube com seu próprio palco, inaugurado em 2012, e encerra um ciclo de dependência externa que se estendeu por mais de uma década. A transição, capitaneada pelo vice-presidente Eduardo Magrisso, será do empresário Marcelo Marques, que havia adquirido a operação em julho, para a tutela direta do Tricolor.

Esta será a primeira vez que o clube gaúcho detém a responsabilidade direta pela administração do estádio. Com a incorporação da Arena, a agremiação passa a controlar tanto as receitas quanto as despesas geradas pelo complexo. Um anseio antigo da diretoria, a prerrogativa de definir os valores dos ingressos, também se concretiza, conferindo ao Grêmio autonomia total sobre a política de acesso dos torcedores.

Magrisso, em comunicação divulgada pelo clube, assegurou que não haverá retrocessos nas recentes melhorias observadas na infraestrutura, como a qualidade do gramado e a experiência de acolhimento dos torcedores. A promessa é de continuidade e aprimoramento, mesmo diante dos desafios inerentes a uma mudança de tal envergadura.

O Compromisso com a Excelência e a Transição Antecipada

Apesar da complexidade da operação, o dirigente pediu compreensão por eventuais ajustes iniciais, mas reafirmou o compromisso com os padrões estabelecidos. "A gente pede paciência para o torcedor porque de repente uma ou outra coisa pode sair da conformidade. Aquelas conquistas que nós tivemos do torcedor chegar, entrar, não ter problema na entrada, ser bem recebido na Arena, ser bem orientado, nós temos um gramado em condições. Isto não vai retroceder. Nós temos o compromisso de não deixar isso retroceder", pontuou Magrisso.

Na prática, o Grêmio antecipa em oito anos a administração do estádio, que, pelo contrato original com a OAS, só ocorreria em 2033. Marcelo Marques desempenhou um papel crucial nesse adiantamento, ao desembolsar R$ 145 milhões para adquirir a gestão da Arena Porto-Alegrense ? empresa vinculada à antiga construtora ? e dois terços da dívida de construção do estádio, que estavam sob a alçada do fundo de investimentos Reag e da empresa Revee, especializada em infraestrutura e eventos.

A aquisição por parte do empresário foi anunciada em julho, interrompendo o vínculo anterior com a Arena Porto-Alegrense. O montante acordado será quitado por Marques em dez parcelas, sendo a primeira já efetuada. Este arranjo financeiro permitiu a aceleração do processo, beneficiando o Grêmio com a antecipação do controle sobre seu principal ativo.

Benefícios e a Manutenção da Equipe Operacional

Magrisso expressou o otimismo da diretoria com a nova fase, destacando o sentimento de pertencimento que a gestão direta trará ao torcedor e o potencial de receita para o clube. "Esse é um momento de celebração que deixa todos contentes. O torcedor com esse sentimento de pertencimento, o clube incorporando as receitas e o potencial de receita que esse equipamento pode trazer que é muito grande", declarou o vice-presidente.

Um aspecto fundamental da transição é a absorção da equipe que já opera a Arena. O Grêmio reconhece a competência desses profissionais, que se mostraram eficientes na gestão anterior de Marcelo Marques, especialmente na implementação de princípios como a qualidade do gramado e aprimoramento da experiência do torcedor. "O Grêmio também absorve toda a equipe da Arena. Quem sabe operar o estádio é a equipe da Arena e que se mostrou muito competente a partir da gestão do Marcelo quando os princípios, gramado, experiência do torcedor, foram colocados em prática. E essa mesma equipe é que vai conduzir agora sob a chancela do Grêmio ", explicou Magrisso.

O Grêmio terá um período de 31 dias para os ajustes finais antes da data oficial. O primeiro compromisso do time sob a nova administração do estádio está agendado para 5 de novembro, às 20h, contra o Cruzeiro.

O Legado de Marcelo Marques e as Condições para o Grêmio

Marcelo Marques, em seu processo de saída, comprometeu-se a entregar a Arena sem quaisquer dívidas ao Grêmio , mesmo após os recentes investimentos em áreas como o gramado e a iluminação. A expectativa inicial era que a incorporação da gestão da Arena à estrutura do Grêmio ocorresse somente em janeiro, mas Marques reavaliou os prazos nos últimos dias.

A decisão de Marques de antecipar a entrega e afastar-se da vida política do Grêmio está ligada à sua mudança para São Paulo, onde se dedicará à expansão da Marquespan, sua empresa no setor de panificação. Ao comunicar sua saída do negócio da Arena, o empresário fez dois pedidos cruciais ao presidente Guerra: a manutenção dos cerca de 40 funcionários da Arena e a formalização de duas resoluções estratégicas.

A primeira resolução busca garantir que a administração e o fluxo de caixa da Arena permaneçam separados das finanças gerais do Grêmio . Após um período estipulado, o lucro poderá ser repassado ao clube, mas somente após a garantia do cumprimento de todas as obrigações do estádio. A segunda medida visa formalizar um documento que impeça a alienação da Arena, ou seja, que o estádio não possa ser cedido como garantia em operações financeiras, como empréstimos bancários.

Essa última condição remete a uma situação histórica que impedia a troca de chaves do Grêmio com a OAS, pois o clube se recusava a ceder a área do Olímpico enquanto a Arena estivesse alienada pela dívida de sua construção junto aos bancos financiadores. As exigências de Marques, portanto, buscam proteger o patrimônio gremista e garantir uma gestão financeira mais transparente e segura para o futuro.