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Michel: Do Abismo à Glória – Ex-Grêmio Revela Luta e Retomada no Futebol
Por Redação Sou Imortal em 09/08/2025 09:13
A trajetória de um atleta profissional, muitas vezes, é percebida apenas através das lentes do sucesso e da performance em campo. Contudo, por trás dos holofotes, há uma realidade complexa, repleta de desafios físicos e, sobretudo, mentais. A saga de Michel, volante que ergueu a taça da Libertadores pelo Grêmio em 2017, personifica essa dualidade. Após um período de profunda escuridão, marcado por lesões debilitantes e um grave quadro depressivo, o jogador de 35 anos empreende um notável retorno aos gramados, reiniciando sua carreira no estado onde tudo começou, o Rio de Janeiro.
Atualmente defendendo as cores do São Gonçalo na Série A2 do Campeonato Carioca, Michel não apenas disputa um torneio, mas celebra um renascimento. O São Gonçalo, campeão da Taça Santos Dumont (primeira fase do campeonato), busca o acesso à elite estadual. O volante esteve em campo no empate em 0 a 0 contra o Olaria, no primeiro jogo das semifinais, com a decisão da vaga agendada para este sábado, às 14h45, no Estádio de Los Larios, em Xerém.
A Batalha Invisível: Depressão e o Fim de Uma Era
A fase mais crítica da vida de Michel, que o levou a um hiato de quatro anos na carreira (2021 a 2025), foi desencadeada por uma série de infortúnios. Entre 2022 e 2023, a dor física e o sofrimento emocional eram tamanhos que atividades simples, como correr ao lado da filha, tornaram-se inviáveis. O joelho esquerdo, castigado por múltiplas lesões, e a mente, assolada por uma depressão profunda, impediam qualquer progresso.
Em um relato franco, Michel descreveu o período mais sombrio, que culminou em uma tentativa de suicídio. A chegada ao Vasco, em meio à pandemia, coincidiu com o agravamento de seus problemas no joelho e o surgimento de conflitos familiares. ?A minha pior fase em relação à depressão e a esses momentos que passei foi quando vim para o Vasco. Era pandemia, eu já estava sofrendo com problemas do joelho, tentava voltar a jogar e não conseguia. Eu vim para o Vasco, joguei alguns jogos só e tive que fazer cirurgia, tudo de novo. Acabou que eu comecei a ter problemas também familiares, no meu casamento, e foram vários fatores que contribuíram para essa situação de depressão. Teve um momento em que eu tentei tirar minha vida, acabar com todo esse sofrimento?, revelou o atleta.
A percepção pública sobre a vida de um jogador de futebol, muitas vezes, distorce a realidade. Michel ressaltou que a profissão vai muito além do glamour e do retorno financeiro. ?A minha vinda para o Rio (em 2021), na verdade foi uma aposta. Eu, com o sonho de querer voltar a jogar, estava voltando de cirurgia, estava bem treinando no Grêmio , e achei que o Vasco seria o início da minha retomada. Mas não foi exatamente isso. Até porque aconteceu a pandemia e eu comecei a passar por alguns problemas pessoais, comecei a voltar a sentir dor. Muitas das vezes a pessoa acha que jogador é só aquilo ali: "ah, vai pro Vasco ganhar dinheiro e ficar encostado". Mas não é isso. A gente vive isso aqui, jogador vive o futebol. Então fora disso aqui a gente não é nada. Acho que não é só isso, né, relação com dinheiro. É um sonho, um sonho que a gente busca desde criança, pra chegar até ali. E muitas vezes a gente tá jogando com dor, tá treinando com dor. E muitas pessoas não veem isso. Então é muito além daquilo que as pessoas veem na televisão?, desabafou o volante.
O Começo do Calvário e a Busca pela Cura
Paradoxalmente, os problemas de Michel tiveram início em 2017, justamente no auge de sua carreira. Durante a campanha vitoriosa da Libertadores pelo Grêmio , ele sentiu as primeiras dores no joelho esquerdo, que o levariam à primeira de sete cirurgias. Apesar da intervenção cirúrgica às vésperas da final, o volante conseguiu atuar no segundo tempo da partida decisiva, contribuindo para a conquista tricolor. Contudo, essa intervenção inicial no menisco, segundo ele, gerou um problema crônico. ?Se fosse esclarecido, seria muito menos pior, até psicologicamente para mim. Se fossem me perguntar se você quer fazer cirurgia, quer tirar o seu menisco para jogar, eu ia falar que queria jogar, entendeu? Mesmo sabendo do risco depois, das consequências, e foi o que aconteceu. Foi retirado totalmente o meu menisco e depois comecei a sofrer com a sobrecarga. Aí veio a lesão de cartilagem, em que sofri até os últimos jogos da minha carreira no Grêmio ?, explicou.
Em 2021, já no Vasco, uma nova lesão e outra cirurgia aprofundaram a crise de Michel, que mergulhou na depressão. O ápice desse sofrimento foi relatado em entrevistas, incluindo uma ao jornalista Duda Garbi em março de 2024. ?Eu estava em casa sozinho, tinha brigado com a minha esposa. Tomava remédio para conseguir dormir e decidi pôr um fim em tudo. Tomei Rivotril (medicamento ansiolítico), acho que sete comprimidos de uma vez. Caído no chão da sala, quase desmaiando, consegui pegar o celular e ligar para a minha esposa: "Me ajuda"?, narrou Michel. O socorro imediato de sua esposa e a rápida intervenção médica foram cruciais para salvar sua vida. Após o episódio, o jogador intensificou o tratamento clínico e psicológico, recebendo apoio fundamental de Grêmio , Vasco, amigos e familiares. ?Graças a Deus, tudo passou?, comemora Michel, que segue com acompanhamento.
O Renascimento: Mais que Futebol, Uma Nova Vida
A esperança de um retorno aos gramados foi testada novamente em 2022, quando Michel voltou ao Grêmio , mas precisou enfrentar outra cirurgia e um novo tratamento, que o levou ao Operário-PR. Sua única partida pelo clube paranaense foi um reencontro amargo com o Grêmio , em uma goleada de 5 a 1. ?Eu conversava com a minha esposa: ?Não aguento mais viver em cima de uma maca, tratando, as pessoas falando, a torcida falando que eu só ia para o clube para roubar?. Cara, eu não queria aquilo. A minha mente era ir para o clube para ajudar, conseguir voltar a jogar, que era o que eu mais amava fazer?, desabafou.
A virada definitiva começou no final de 2023. Exausto de conviver com a dor, Michel buscou um tratamento inovador em Porto Alegre, utilizando células-tronco para regeneração tecidual. A cirurgia foi um sucesso retumbante. ?Vou ser bem sincero. Eu busquei o tratamento não para tentar voltar a jogar, mas para ter uma vida. Porque eu não tinha vida relacionada ao meu joelho. Não conseguia jogar uma pelada, não conseguia correr para brincar com a minha filha, eu sentia dor para tudo. Foram dois anos de muita luta, desde que eu parei. Só que eu só tinha parado na minha mente, tanto que não anunciei aposentadoria nem nada?, afirmou o volante. Em 2024, o convite para retornar aos campos veio de Tinoco, técnico do São Gonçalo e amigo de infância da comunidade da Penha, no Rio. Michel pediu uma oportunidade para treinar, e rapidamente se integrou ao elenco. ?Depois desses dois anos, de ter encerrado a carreira precocemente, para mim é uma felicidade imensa estar aqui hoje, voltando a fazer o que amo, e voltando sem dor?, celebrou.
O Legado Gremista e o Novo Capítulo
O retorno oficial de Michel aos gramados ocorreu em 17 de maio, na vitória do São Gonçalo por 2 a 1 sobre o Americano, pela estreia da Série A2 do Carioca, onde atuou os 90 minutos. O clube, fundado em 2010, almeja o acesso inédito à Série A1 de 2026. A equipe disputará a vaga na final contra o Olaria, no próximo sábado, em Los Larios, após o empate sem gols na primeira partida.
A história de Michel no Grêmio é marcada por momentos de glória e superação. Sua chegada em 2017, vindo do Atlético-GO, onde havia sido campeão da Série B, foi o prelúdio de uma trajetória vitoriosa. No Tricolor, o volante conquistou a Libertadores de 2017 e a Recopa Sul-Americana, além de ter sido finalista do Mundial de Clubes contra o Real Madrid. O apoio de Renato Gaúcho, seu técnico na época, foi fundamental para sua adaptação e confiança. ?O Renato (Gaúcho, então técnico do Grêmio ) conversou comigo com total confiança. E eu conversei alguns dias antes desse Gre-Nal com um amigo que trabalha no Grêmio como captador. Ele disse: 'Cara, tu quer ganhar a torcida? Dá uma no D'Alessandro. A primeira que tu der no D'Alessandro, tu vai ganhar a torcida'. E não deu outra. A primeira que o D'Alessandro pegou, já dei um carrinho. Tomei cartão, mas já ganhei o carinho da torcida?, recorda, com bom humor.
Michel se consolidou como um volante versátil, com boa capacidade defensiva e qualidade na saída de bola, além de contribuir no ataque. Ele elegeu um gol de cobertura do meio-campo contra a Chapecoense, em 2017, como o mais bonito de sua carreira. No Grêmio , seus números comprovam sua importância:
Estatística | Detalhes |
---|---|
Jogos | 114 |
Gols | 8 |
Títulos | Libertadores (2017), Recopa Sul-Americana |
Mundial de Clubes | Finalista (2017) |
Desde 2018 sem balançar as redes, Michel almeja retomar a fase goleadora neste novo capítulo de sua vida. Mais do que marcar gols, o que o motiva é a oportunidade de deixar sua marca em mais um clube, reafirmando sua paixão pelo futebol e sua inabalável resiliência.
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