Braithwaite: A Dança Que Virou Símbolo Tricolor e Sua Origem Emocionante

No universo do futebol, onde cada gesto é dissecado e cada celebração se torna um ícone, a comemoração de Braithwaite no Grêmio transcende a mera manifestação de alegria. O ritual, que se tornou um símbolo da união entre o jogador e a torcida, possui raízes profundas e um significado que vai muito além dos gramados. Não é apenas uma dança, mas uma narrativa de afeto e herança cultural que ressoa com os corações gremistas.

Desde sua chegada, o atacante dinamarquês tem não apenas balançado as redes, mas também os quadris, em um movimento que rapidamente cativou os torcedores. A coreografia, caracterizada por sua ginga e o "movimento do pêndulo", tornou-se um fenômeno, replicado por crianças e adultos, tanto nas arquibancadas quanto nos túneis de acesso à Arena. Este ano, Braithwaite já celebrou 15 gols com essa assinatura particular, solidificando ainda mais o gesto no imaginário coletivo.

A Celebração Que Virou Manual e Conquistou a Torcida

A popularidade da dança é tamanha que inspirou o designer gráfico e ilustrador Pablo Conde a criar um "pequeno manual para bailar com Braithwaite", que viralizou intensamente nas plataformas digitais. A descrição detalhada do movimento ? "Acredita na tua ginga, prepara o quadril e já prepara o movimento do pêndulo para o lado oposto. Agora já pode relaxar e deixar a cantoria da torcida tricolor te levar. Termina o movimento com elegância e faz tudo de novo, agora para o lado oposto" ? demonstra o nível de imersão e carinho que a celebração alcançou. É um testemunho da capacidade do esporte de gerar novos ícones e rituais que transcendem o campo de jogo.

Conde, ao ser questionado sobre a motivação por trás do manual, revelou um desejo de desvendar a curiosidade em torno da dança. "Sempre achei muito curiosa essa comemoração. De onde veio essa dança? Ele já fazia antes? Começou a fazer só no Grêmio ? Pensei que como está uma febre do Braithwaite, as pessoas gostariam de saber, ou pelo menos as crianças. Aí viajei aqui e pensei num manual de como se faz a dança, para quando saísse gol todo mundo tivesse ensaiado para comemorar. Claro, tem um senso de humor aí para a galera se identificar mais fácil", explicou o ilustrador, ressaltando o caráter lúdico e envolvente da iniciativa.

Foto: (Lucas Uebel / Grêmio FBPA)

As Raízes Profundas de um Gesto Familiar

A despeito da nacionalidade dinamarquesa de Braithwaite, a origem de sua marcante dança não tem qualquer ligação com a cultura escandinava. Fontes consultadas no país europeu manifestaram estranhamento, confirmando que os passos do jogador não remetem a movimentos tradicionais daquela região. A verdadeira gênese da comemoração reside em um elo familiar profundo e inesperado, que nos leva a um canto pouco explorado da América do Sul.

A dança é, na verdade, uma emocionante homenagem a Keith, pai de Braithwaite. Keith é natural da Guiana, um país sul-americano que faz fronteira com o estado de Roraima, local onde o Grêmio disputou uma partida na Copa do Brasil. Os passos malemolentes que o centroavante exibe a cada gol são uma recriação da coreografia criada por seu próprio pai, um tributo vivo à sua herança e ao carinho familiar. Não se trata de uma influência específica da cultura guianesa, mas sim da valorização do bailado como uma expressão genuína de congratulação e alegria, enraizada na vivência do povo.

O personal trainer particular de Braithwaite, Leonel Villeroy, compartilhou um relato comovente que ilustra a essência dessa relação familiar: "Ele (Keith) é um cara sensacional. Olhava para mim e começava a dançar. Uma vez, no Natal, fui dar treino para ele (Braithwaite) no dia 24. Acabou o treino e veio toda família começar a dançar. Não conseguia ir embora! O pai dele é sensacional, um admirador, é um cara coração. Parecia que conhecia ele há muito tempo. Estive na Guiana, fui junto. É bizarro. Nem o Martin tinha ido", revelou Villeroy, sublinhando a conexão única e a atmosfera de celebração que envolve a família Braithwaite.

O Fenômeno Braithwaite Para Além dos Gols

O impacto da dança de Braithwaite transcendeu as redes sociais e os campos, tornando-se um catalisador de momentos memoráveis e de conexão direta com a base de fãs. A ambição de Pablo Conde em popularizar a história gremista encontrou eco na realidade, ainda que por caminhos indiretos. Recentemente, o próprio Braithwaite participou do lançamento de uma camisa especial do Grêmio , que ostenta um patch com seu rosto, e um vídeo divulgado pelo clube o mostra bailando junto aos torcedores, reforçando a simbiose entre o atleta e sua paixão.

Meses antes, um momento particularmente emocionante viralizou após a vitória por 2 a 1 sobre o Juventude, na semifinal do Gauchão, partida que contou com mais um gol do dinamarquês. O torcedor Cauan Cuzma, de 19 anos, aguardava o jogador na saída do vestiário da Arena, imitando a famosa dança. Braithwaite, acompanhado por Monsalve e sua marmita pós-jogo, atendeu o fã com a habitual gentileza, sob os olhares de sua esposa, Anne-Laure, e dos filhos. O encontro, repleto de alegria, gerou risadas inesquecíveis, como relatou Cleomar, pai de Cauan, que lamentou não ter conseguido registrar o auge do momento devido ao nervosismo.

"A melhor parte é quando o Braithwaite começa a dançar com ele, mexe o braço e acerta a marmita do Monsalve. Voou suco, talher, foi um cinema!", recorda Cleomar, ilustrando a leveza e o carisma que Braithwaite irradia, transformando interações simples em anedotas memoráveis para os torcedores.

Liderança e Identidade: O Legado de Braithwaite no Grêmio

Apesar de um breve período de três jogos sem marcar entre o gol contra o Corinthians e os dois diante do Fortaleza, a posição de Braithwaite como titular nunca esteve em xeque. Sua contribuição para o Grêmio vai além da frieza dos números. Ele é um jogador que une técnica apurada com uma liderança inata, forjada por anos de experiência e rodagem em diferentes clubes. Sua presença em campo e no vestiário é um pilar para a equipe, demonstrando a importância de um atleta que não só performa, mas também inspira.

Em Porto Alegre, Braithwaite encontrou não apenas um clube, mas um lar. Sua adaptação à cultura local é notável, com viagens frequentes pela região nos dias de folga, buscando uma imersão completa no estilo de vida gaúcho. Aprendeu a arte de preparar o chimarrão e, em um gesto que selou sua conexão com o Rio Grande do Sul, comemorou um de seus gols de pênalti usando um chapéu característico da indumentária gaúcha. O dinamarquês, filho de guianês, que se tornou um cidadão do mundo e, agora, um gaúcho por adoção, encarna o espírito de um atleta que veste a camisa do Grêmio não apenas como um uniforme, mas como uma segunda pele. Sua capacidade de fascinar a torcida com seu carisma, personificado na dança, e, inegavelmente, com seus gols, solidifica seu status como uma figura central e querida no panorama tricolor.