Grêmio: Ações da Nova Gestão para Equilibrar Finanças e Superar Dívidas

A recente administração do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense inicia seus trabalhos com um desafio financeiro imponente. A busca por novos recursos e a reestruturação das contas são prioridades absolutas, marcando o início de uma era de intensas negociações e decisões estratégicas. A venda do jovem Alysson ao Aston Villa representa um dos primeiros movimentos concretos nessa direção, sinalizando a urgência em capitalizar ativos.

Nos primeiros dias de mandato, a cúpula diretiva tem se dedicado a identificar e explorar diversas fontes de receita. A apresentação do CEO Alex Leitão, figura central nesse processo, revelou um panorama desolador: um clube sem patrocinador master, sem contratos de naming rights para sua arena e desprovido de uma empresa de bilheteria dedicada. Tais lacunas, conforme Leitão, representam um terreno fértil para a implementação de novas políticas financeiras.

O Imperativo da Geração de Receitas no Grêmio

O principal objetivo da nova gestão é preencher rapidamente essas deficiências comerciais, mas o foco imediato reside na estabilização do fluxo de caixa. O próprio CEO utilizou uma analogia contundente para descrever a condição atual do Tricolor, afirmando que o clube está "em coma".

? Neste momento, com pouco menos de 48h (no clube), foco total é no fluxo de caixa. Isso vai nos dar possibilidade de priorizar dívidas de curto prazo que possam machucar o clube. Então, estamos procurando fazer isso o mais rápido possível ? declarou o novo CEO.

? Com relação às estratégias, diria que estamos no coma para uma situação de respirar por aparelhos, demora um pouquinho ? acrescentou.

Durante os últimos dias da gestão anterior, o ex-presidente Alberto Guerra mencionou ter recebido uma proposta de patrocínio master anual de R$ 53 milhões, proveniente de uma empresa de apostas, encaminhada a Odorico Roman. Leitão confirmou que diversas propostas estão sob análise, embora não tenha detalhado se esta oferta específica será aceita. Outra alternativa ventilada por Odorico Roman e ratificada por Alex Leitão é a estruturação de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).

Estratégias para Aliviar o Caixa e o FIDC

A ideia do FIDC é permitir que o Grêmio capte recursos no mercado com condições de juros mais vantajosas, possibilitando a quitação de dívidas de curto prazo que hoje oneram significativamente o clube. Trata-se de uma ferramenta financeira que busca otimizar a gestão do passivo e injetar liquidez.

? O FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) pode ser uma possibilidade, e acho que é uma possibilidade boa para o clube. Temos que buscar dinheiro mais barato no mercado para poder trocar com dívidas de curto prazo que venham machucando o clube, com situações de juros muito altos ? explicou o CEO.

O presidente Odorico Roman complementou, indicando que o fundo já está estruturado e que a intenção é lançá-lo no início do próximo ano, convidando associados e torcedores a participarem. Essa iniciativa promete ser um reforço crucial para o fluxo de caixa, permitindo ao clube honrar compromissos emergenciais.

Desafios Imediatos: O Cenário das Dívidas e Transfer Bans

Entre as dívidas que "machucam", como definiu Leitão, está o recente transfer ban imposto ao Grêmio em novembro, resultado da falta de pagamento ao Granada pela aquisição do jogador Arezo. O montante pendente, cerca de R$ 7 milhões, não foi quitado pela administração anterior. Além disso, existe uma segunda pendência que pode gerar um novo transfer ban: 150 mil euros (aproximadamente R$ 958,4 mil) devidos ao River Plate-URU, referentes à metade do valor recebido pelo empréstimo de Arezo ao Peñarol até dezembro deste ano.

Diante desse cenário, a vigilância financeira é constante. Leitão enfatizou a importância de um controle rigoroso sobre os gastos.

? Todo dia, a primeira reunião é com o diretor financeiro. Temos que estar sentado no caixa, não pode tirar o olho dali. Proteção completa. Não podemos errar, não pode gastar errado ? alertou Leitão.

Performance em Campo e a Saúde Financeira: Uma Conexão Crucial

Ao mesmo tempo em que as finanças são reestruturadas, o CEO assegura que o diálogo com o vice-presidente de futebol, Antonio Dutra Junior, é contínuo. A meta é garantir que a saúde financeira e a competitividade do time caminhem juntas, pois um desempenho insatisfatório em campo pode ter reflexos diretos e prejudiciais nos cofres do clube.

? Quando às vezes falam assim: "poxa, mas o clube está numa situação tão ruim, por que continua investindo? Por que continua tentando trazer um jogador aqui, ali?" Porque a má performance é prejudicial, né? Hoje em dia, de forma muito direta, inclusive. Se pegar a maior linha de receita de qualquer clube, que é direitos de TV, um percentual relevante dessa linha de receita é de performance ? exemplificou.

Alex Leitão: O Perfil do Novo Maestro Financeiro Tricolor

Alexandre Barreira Leitão traz uma bagagem profissional robusta para o comando financeiro do Grêmio . Formado em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui especializações em Marketing pela Universidade da Califórnia e em Gestão Empresarial pela Harvard Business School.

Sua trajetória inclui uma década (1994 a 2004) na AB InBev, a maior cervejaria do mundo, onde atuou nas áreas de marketing, eventos e vendas. Participou de projetos de grande visibilidade, envolvendo a Seleção Brasileira, Ronaldo Nazário e Kaká. Foi nesse período que Leitão acompanhou a delegação brasileira na Copa de 2002, estabelecendo uma relação com Luiz Felipe Scolari, então técnico da Seleção e hoje coordenador técnico do Grêmio .

A experiência no futebol se aprofundou em 2015, quando assumiu como CEO do Orlando City, nos Estados Unidos, cargo que ocupou até 2021, durante a gestão do empresário brasileiro Flávio Augusto da Silva. Após um período prestando consultoria, Leitão foi CEO do Athletico-PR de janeiro a julho de 2024, desligando-se por divergências com o presidente Mario Celso Petraglia. Seu trabalho mais recente foi entre novembro de 2024 e junho de 2025 no Neom SC, onde o clube conquistou o acesso à primeira divisão da Arábia Saudita, comprovando sua capacidade de gestão em diferentes contextos do futebol.