Grêmio e Inter: Entenda Como a Mediocridade Ameaça o Gre-Nal

O cenário atual do futebol gaúcho, especialmente no que tange aos seus dois gigantes, Grêmio e Internacional, alcançou um patamar que sugere uma reflexão profunda. Neste domingo, o Beira-Rio será palco de um Gre-Nal, um clássico que, em tempos normais, seria um marco de orgulho para a tradição do estado. Coincidentemente, a partida ocorre logo após o 20 de setembro, data em que se celebra a Revolução Farroupilha, onde os rebeldes, em suas vestes humildes, desafiaram o Império brasileiro. A tentação de traçar um paralelo é quase irresistível: o que se observa hoje são dois clubes em uma condição deplorável, com elencos que lembram "farrapos", ameaçando a própria relevância do Gre-Nal, essa instituição tão cara ao povo gaúcho.

A promoção de ingressos agressivamente divulgada pelo Internacional para o confronto deste domingo é um sintoma claro desse desalento. Sócios adimplentes terão a oportunidade de levar um acompanhante gratuitamente e usufruir de descontos de até 80% nas entradas. Uma iniciativa incomum em clássicos, e que evidencia uma preocupação genuína do clube em preencher as arquibancadas, dada a patente desmotivação de sua torcida. Tal medida sublinha a percepção de que, sem um atrativo extra, a presença massiva estaria comprometida.

Grêmio e Inter trazem para este clássico uma mediocridade gritante, que tem sido a tônica de suas respectivas temporadas. Ambos os clubes flertam perigosamente com a zona de rebaixamento no campeonato nacional.

O Retrato de uma Temporada Desapontadora: Dados de Grêmio e Inter

Para ilustrar o desempenho aquém do esperado, vejamos um resumo das campanhas de ambos os clubes:

A rodada anterior serviu como um espelho da fragilidade que assola as duas equipes. O Tricolor, jogando em casa, foi dominado e derrotado por 1 a 0 pelo Mirassol. Já o Colorado, atuando fora, sofreu uma goleada de 4 a 1 contra o Palmeiras, evitando um placar ainda mais vexatório apenas porque o adversário diminuiu o ritmo após os quatro gols no primeiro tempo. Nenhum desses resultados gerou surpresa; eles são a face visível do desempenho rotineiro de ambos os times em 2025.

Foto: (Sipa USA / Alamy Stock Photo)

O Gre-Nal do Fundo do Poço e o Futuro dos Comandantes

Este Gre-Nal, como sagazmente observado por Diogo Olivier, talentoso colega da RBS TV, é "o Gre-Nal do fundo do poço". O valor deste confronto não reside nas perspectivas que pode abrir, mas sim no alívio temporário que pode proporcionar a um desespero crescente. É bastante provável que o resultado da partida determine o destino de pelo menos um treinador. Roger Machado, à frente do Grêmio , chega extremamente pressionado, incapaz de encontrar soluções para uma equipe que se mostra apática e sem rumo. Mano Menezes, no comando do Inter, apesar de ter conquistado o estadual e ter evitado a demissão após uma derrota em casa para o Sport, igualmente falha em dar ao seu elenco o discernimento mínimo necessário para competir em alto nível.

A rivalidade inerente ao Gre-Nal é incomparável no Brasil. Nenhuma outra cidade vivencia um clássico com o nível de engajamento e paixão que Porto Alegre demonstra. Independentemente dos acontecimentos no país, no mundo ou até na galáxia, o jogo se torna o epicentro das conversas por semanas a fio, antes e depois da partida. Consequentemente, sair vitorioso de um Gre-Nal sempre significou mais do que uma simples vitória; era a conquista de um "campeonato particular", o direito inegociável de desfrutar da superioridade sobre o adversário, mesmo que por um breve período.

A Grandeza Esvaziada: O Que Significa Vencer Agora?

Desta vez, contudo, em um clássico visivelmente esvaziado de seu brilho habitual, até mesmo essa sensação de triunfo parece mitigada. Vencer o Gre-Nal de domingo, mas com qual propósito real? A vitória seria capaz de transformar um modelo de gestão ultrapassado, que afasta os clubes, a passos largos, dos principais patamares do futebol brasileiro? O time vencedor, por um passe de mágica, passaria a contar com um treinador capaz de insuflar vida em equipes desorganizadas ou desmotivadas?

A grandiosidade histórica do clássico gaúcho sempre carregou consigo um risco: o de que o próprio clássico se bastasse, servindo como uma cortina de fumaça para mascarar a dura realidade. Entretanto, a situação atual é distinta. A realidade se impõe com uma clareza e concretude tão avassaladoras que persistirá inalterada mesmo após o apito final. É imperativo que seja assim, pois, do contrário, a ausência do Gre-Nal no Brasileirão do próximo ano poderá ser uma consequência inévitável.