Grêmio sem vencer: Análise dos motivos da má fase | Futebol Gaúcho

O cenário para o Grêmio é de apreensão. O clube estendeu para seis confrontos sua sequência sem triunfos, após ser superado pelo CSA, por 3 a 2, em partida válida pela Copa do Brasil, na última quarta-feira.

Essa marca negativa remete a junho do ano anterior, período impactado pela enchente, quando a equipe atuava longe de seu estádio. Naquela ocasião, o retrospecto era de quatro derrotas e dois empates. Atualmente, o quadro se agrava: três derrotas e três empates.

Em busca de reverter esse ciclo desfavorável, o Tricolor se prepara para reencontrar sua torcida. Após uma série de três compromissos como visitante, o time enfrentará o Santos no próximo domingo, às 16h, em sua Arena, em partida válida pela sétima rodada do Campeonato Brasileiro.

A Fragilidade Tática e a Troca no Comando

Um dos pontos cruciais para entender o momento do Grêmio reside na instabilidade técnica. A aposta em um treinador estrangeiro após a saída do ídolo Renato Portaluppi, que optou por não seguir no cargo, não surtiu efeito. A escolha recaiu sobre Gustavo Quinteros, que havia conquistado o campeonato argentino pelo Vélez Sarsfield em 2024. Contudo, o resultado foi aquém do esperado.

O ciclo de Quinteros encerrou-se após 20 partidas, precipitado por duas derrotas consecutivas que apenas confirmaram as atuações irregulares observadas anteriormente: um revés por 2 a 0 para o Flamengo, na Arena, e uma goleada de 4 a 1 sofrida para o Mirassol, em São Paulo.

Com raras exceções, como goleadas aplicadas em adversários de menor expressão (Caxias, São Luiz, Pelotas), o trabalho de Quinteros jamais transmitiu segurança ou convicção. Seu "legado" aparente foi uma equipe desprovida de padrão tático definido, com variações constantes na escalação titular, notórios problemas de marcação e um abuso excessivo de lançamentos longos da defesa para o ataque.

A chegada de Mano Menezes, há três partidas, ainda não conseguiu estancar a sangria. Em todos os seus jogos no comando, o Grêmio saiu na frente no placar, mas não soube sustentar a vantagem. Contra Godoy Cruz e Vitória, a equipe permitiu o empate. Diante do CSA, sofreu a virada, com o gol decisivo nos acréscimos.

As falhas que contribuíram para a saída de Quinteros persistem, e o novo técnico, sem tempo adequado para treinamentos, enfrenta o desafio de reformular a organização defensiva do time.

Mano Menezes comentou a dificuldade: "Há mais tempo, o Grêmio jogava com perseguições. Isso fica muito no imaginário do jogador, está acostumado a fazer dessa maneira. Quando você começa a trabalhar com posicionamento zonal, precisa que toda equipe faça esse posicionamento junto para essas coisas funcionarem bem. Um bom enfrentamento de um contra um inicia com um bom posicionamento. Se você está mal posicionado, você já sai atrasado, se dá muita vantagem ao adversário, e aí dificulta mais as coisas".

Obstáculos em Copa e Reforços Questionáveis

A dificuldade do Grêmio em se impor não se restringe ao Campeonato Brasileiro. Na Copa do Brasil, a equipe avançou de fase sem demonstrar a superioridade esperada, especialmente contra adversários de divisões inferiores. Na etapa inicial, um empate por 1 a 1 com o São Raimundo, de Roraima (clube que não disputa divisões nacionais), com a vaga assegurada apenas nos pênaltis. Em seguida, novo empate, 3 a 3 com o Athletic, de Minas Gerais (recém-promovido à Série C), novamente decidido nas penalidades.

Em ambas as ocasiões, o desempenho esteve muito aquém da tradição do Grêmio na competição e da diferença de investimento em relação aos oponentes.

Agora, na terceira fase, que introduz jogos de ida e volta, o primeiro confronto reforçou as preocupações. A derrota por 3 a 2 para o CSA, equipe da Série C, em uma virada nos minutos finais, evidenciou a vulnerabilidade do time. A chance de reverter o quadro virá no jogo de volta, em 20 de maio, na Arena.

Paralelamente às questões táticas e de desempenho, o mercado de contratações do Grêmio neste ano levantou questionamentos. O clube trouxe 11 novos jogadores, mas poucos conseguiram se firmar como peças essenciais. Apenas o goleiro Tiago Volpi (que, ironicamente, teve atuações recentes criticadas em gols sofridos contra Vitória e CSA), o zagueiro Wagner Leonardo e o atacante Cristian Olivera conquistaram um status de titularidade mais consistente.

O lateral-esquerdo Marlon, reforço mais recente, tende a ocupar a posição, relegando outra contratação, Lucas Esteves, ao banco. Amuzu, por lesão, ainda não pôde contribuir.

Casos como Cuéllar, que precisou de 40 dias para iniciar uma partida devido a reforço muscular, ou Luan Cândido, que chegou sem a condição física ideal, ilustram as dificuldades. João Lucas não conseguiu competir pela vaga com João Pedro, e Camilo perdeu espaço para Dodi, que já estava no elenco. Jorge, contratado do Pelotas (rebaixado no Gauchão), chegou para ser o terceiro goleiro, uma posição que não resolve problemas de campo.

O Peso da Derrota no Estadual e os Clássicos

Não se pode ignorar o impacto da perda do Campeonato Gaúcho no início da temporada. A meta de conquistar o oitavo título estadual consecutivo e igualar a marca histórica do maior rival foi frustrada, permitindo que o Inter voltasse a erguer a taça após um longo jejum.

Na partida de ida da decisão, o Tricolor sofreu uma derrota inquestionável por 2 a 0 em sua Arena, conseguindo apenas um empate por 1 a 1 no jogo de volta, no Beira-Rio. Somado a isso, o Grêmio acumula um incômodo jejum de vitórias em Gre-Nais, que perdura desde outubro de 2023. Nesta temporada, foram realizados quatro clássicos ? três pelo Estadual e um pelo Brasileiro ? com um saldo de três empates e uma derrota.

Análise do Desempenho Recente e o Apelo da Torcida

O balanço do último mês, abril, também se revelou insatisfatório. Em nove compromissos agendados, a equipe conquistou apenas duas vitórias (diante de Sportivo Luqueño e Atlético Grau, pela Copa Sul-Americana). Seis desses embates ocorreram longe de seus domínios.

O período foi marcado por fragilidade defensiva, com 16 gols sofridos, superando os 11 marcados. O aproveitamento, de meros 33,3%, espelha a dificuldade enfrentada pelo elenco .

O técnico Mano Menezes, ciente da necessidade de superação, apelou pelo apoio dos aficionados antes do próximo confronto: "É o primeiro jogo que vamos fazer como mandante, e o torcedor deve ter visto também como é difícil jogar como visitante. O ambiente do jogo interfere diretamente na produção das equipes. Nós precisamos muito. Mesmo que tenhamos consciência que temos que melhorar. Só vamos melhorar ao lado do nosso torcedor. A gente pede esse voto de confiança."

O Grêmio se encontra, portanto, em um momento de resultados preocupantes e desempenho inconsistente. A sequência de seis jogos sem vitória ? três derrotas e três empates ? exige uma resposta rápida do elenco e comissão técnica.

O reencontro com a torcida na Arena contra o Santos representa uma oportunidade crucial para tentar quebrar esse ciclo e iniciar uma recuperação no Campeonato Brasileiro.

Os fatores que contribuem para essa má fase são diversos e complexos, indicando a necessidade de ajustes profundos que vão além da simples troca de comando. O desafio de Mano Menezes é imenso, e a paciência da torcida, testada.